Campinas,05 de agosto de 2010
Hoje tomo a liberdade de transcrever aqui um texto da Sibelle Traldi,mestre em fonoaudiologa e gestora do Instituto SELI, um texto que traduz uma realidade em que acredito, espero e outros post poder comentá-lo mais...Um abraço aos meus fieis leitores...
...Os porquês de uma escola para Surdos
O Colégio SELI propõe um ensino especializado para Surdos desde a Educação Infantil ao Ensino Médio para que os surdos construam sua história educacional com qualidade.
Cientes da importância dos aspectos culturais na educação dos surdos e da necessidade da aquisição de uma primeira língua em sua plenitude para o aprendizado do conhecimento, cabe então questionarmos:
- como se efetiva a inclusão dos surdos na sala de ouvintes quando não se respeita a metodologia diferenciada no ensino para surdos, a qual vai além da língua?
-Como pode um professor utilizar-se efetivamente da LIBRAS (em seus aspectos gramaticais, sintáticos e semânticos) para passar o conteúdo, se ele falar ao mesmo tempo, visto que são línguas com estruturas gramaticais diferentes?
-qual o referencial de capacidade que o aluno surdo terá para si mesmo quando está sempre ‘correndo atrás’ dos colegas ouvintes por falta de uma metodologia de ensino adequada?
- quais os anseios profissionais desse aluno se ele não conhece nenhum outro surdo que esteja desempenhando uma função de nível superior?
Para formar e educar pessoas Surdas não basta um intérprete em sala. Também não basta ter um nível básico de LIBRAS.
Para formar educar pessoas surdas é preciso conhecer as peculiaridades lingüísticas, pedagógicas, sociais e de identidade desta população; é preciso utilizar uma metodologia própria de ensino, diferente da usada para os ouvintes (visto que os Surdos possuem um canal de aquisição de primeira língua -viso-gestual- diferente da maioria da população); é possibilitar referenciais positivos de vida pessoal e profissional.
Educar e formar pessoas Surdas é, acima de tudo, acreditar na capacidade dessas pessoas.
Sabemos que a inclusão não vem apenas de fora para dentro, mas principalmente, de dentro para fora. Na medida em que os surdos são respeitados em suas diferenças culturais, identitárias e lingüísticas, eles podem desenvolver seu potencial intelectual e cognitivo com plenitude favorecendo a construção do conhecimento, de uma auto estima elevada e, consequentemente, sua inclusão social. Assim sendo, afirmamos que uma escola para Surdos é inclusiva.
Conforme reportagem da Folha de São Paulo de 10/10/2009, 63% dos adolescentes brasileiros não concluem o Ensino Médio para se encaminharem ao mercado de trabalho. Sabemos que esse é um problema que abrange a educação brasileira de uma forma geral, sejam surdos ou ouvintes, porém para os alunos surdos essa causa é ainda mais preocupante. Além das questões sociais de nosso país, os jovens surdos ficam desestimulados para o estudo devido a uma metodologia que não leva em conta as particularidades lingüísticas e sensoriais necessárias para o aprendizado do aluno surdo. Podemos dizer que é a maneira como se propõe a educar surdos que é deficiente, e não os alunos.
O conhecimento especializado sobre surdez e pessoas surdas possibilita um ensino efetivo desde a Educação Infantil até o Ensino Médio e favorece o aprendizado, a construção da capacidade crítica e a conscientização da função social das pessoas surdas.
E vamos além: a formação universitária é fundamental para que os Surdos possam colocar-se no mercado de trabalho em condições melhores do que as que ocupam na atualidade.
Sabendo-se que ‘incluir é manter uma postura ética perante as diferenças’, subestimar e/ou querer ‘normalizar’ o processo de escolarização desses alunos é acima de tudo assumir uma postura antiética, é não respeitar as diferenças.
Educar Surdos é investir, pensar e acreditar no futuro destas pessoas.
Foi-se o tempo de brincar de ensinar os surdos e de fingir que eles aprenderam.
Somente por meio de uma educação especializada e de qualidade é que as pessoas surdas poderão mostrar suas potencialidades e incluir-se socialmente de modo igualitário à população em geral.
É para isto que trabalhamos.
É isto que desejamos.
É nisto que acreditamos.
Um forte abraço a todos.
Sibelle Moannack Traldi
Gestora Escolar do Instituto SELI
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