Educação de Surdos...Minha amiga Gel...

Iniciei meu trabalho com os surdos no ano de 1998, trabalhava como monitora(auxiliar de classe) não se falava em inclusão, ou melhor, pouco se falava em inclusão e nesta escola, que eu trabalhava tinha muitos surdos...Fiquei apaixonada pela maneira com que se comunicavam, a linguagem de sinais me fascinou...As crianças tinham em média de 3 a 7 anos e brincavam, se divertiam e neste momento tive que lidar com meu proprio preconceito, nos dois primeiros dias de trabalho eu chorei muito, pois me impactava ver as crianças, hoje 10 anos depois, vejo como eu era preconceituoso, a surdez não era motivo para que não fossem crianças de verdade, como qualquer outra...
Tudo foi mudando, eu resolvi me dedicar integralmente a educação de surdos e passei de monitora, a professora sempre querendo o melhor para os surdos e a língua que me fascinava, se tornou ainda mais bonita aos meus olhos através da mãos de minha colega de trabalho, hoje minha amiga irmã Gel, uma profissional talentosa, experiente que conhece não só a surdez, como as especificidades do sujeito surdo, envolvida de corpo e alma com este trabalho, ela me ensinou LIBRAS, todos os dias ela nos dava aulas e mais aulas e a mim e aos outro professores, cabia apenas ouvir e aprender...
Um belo dia ela interpretou a música Amor em qualquer língua,um belissimo louvor evangélico, realmente naquele dia entendi que a educação das pessoas deficientes vai além daquilo que podemos entender, é um trabalho que nos envolve, que faz com que rompamos barreiras e também viver um pouquinho daquilo que o outro vive.Esta minha amiga Gel, captou a música e transformou numa poesia, linda magnifica e ali eu pude compreender que independente daquilo que pensamos, inclusão ou não, o melhor tem que ser o bem estar do surdo, sua verdadeira aprendizagem e a legitimização de sua educação.
Tudo mudou, hoje coordeno uma ONG para educação de surdos e minha amiga Gel segue dando aula em faculdades,sendo interprete numa grande universidade, segue sendo a melhor conhecedora do universo dos surdos, brigando pela causa dos surdos, fazendo trabalhos de tradução nos lugares mais inimaginaveis e muitas vezes de graça, voluntariamente por acreditar e amar a causa do sujeito surdo, fazendo valer nossa verdade: lutar para garantir o direito do surdo a ter direitos...
A inclusão é uma realidade,e eu acredito que ela possa efetivamente ser boa para a sociedade como um todo, não apenas um mero decreto lei, que obriga, a escola, como mera cumpridora da lei.Inclusão começa na sua casa, na minha, quando eliminamos de nosso vocabulário, todo pré-conceito daquilo que desconhecemos e nos propomos a enxergar a todos como iguais em suas diferenças...